Processo de apuração de livro sobre ditadura e jogo do bicho inspira alunos de Jornalismo

Jeffe Alves
3 min readJun 23, 2018

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Para os estudantes de Jornalismo existem variadas opções de áreas, editorias e mídias a seguir. Mas a base de todo o trabalho, sem dúvida, é a apuração bem feita. Sem falar da curiosidade e interesse em contar histórias ou de apenas contribuir para que sejam propagadas. Ter preferências dentro desse guarda-chuva que é a comunicação é esperado. Quem optou por um dos caminhos mais meticulosos e gratificantes são os jornalistas Aloy Jupiara e Chico Otavio.

Os dois uniram o interesse por carnaval e pelo tema da ditadura para escreverem o livro “Os porões da contravenção — Jogo do bicho e ditadura militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado”. Os processos de investigação, ou seja, a apuração para se chegar nessa obra, podem inspirar aqueles que querem seguir carreira no jornalismo investigativo.

Esse é um trabalho que está ligado a uma reportagem mais aprofundada. Não que apenas no jornalismo investigativo seja assim, mas é uma característica essencial dele. E as diferentes fontes contribuem para o conteúdo e a estrutura da grande matéria. Além de personagens, especialistas e mídias como origem dessas informações, Aloy destaca os acervos históricos digitais e analógicos.

Dessa maneira foi iniciada a apuração da série de matérias que mais tarde foi ampliado se tornou um livro. “É um trabalho de formiguinha, documento por documento, realizado no Acervo Nacional e no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Por meio de pesquisa e garimpo, encontrava informações sobre bicheiros, torturadores e políticos. Fazia isso duas vezes por semana”, conta.

Toda a investigação, segundo o jornalista que atuou por 30 anos no jornal “O Globo” e hoje trabalha com projetos e produtos digitais, surge da curiosidade, que se relaciona também com assuntos de interesse de cada profissional. Chico tinha interesse por temas ligados à corrupção, enquanto Aloy possuía afinidade com carnaval, e os dois se interessavam em estudar a ditadura.

A hipótese inicial do Aloy era de que os temas teriam uma ligação. “Grupo de bicheiros, que formariam a cúpula do jogo do bicho e, mais tarde, a Liga das Escolas de Samba (Liesa), surgiu na década de 70, durante o regime militar. Teríamos que provar que um fato influenciou o outro”, explica.

A investigação para as reportagens mostrou que os bicheiros precisavam de reconhecimento social. E o carnaval era o meio pelo qual chegariam ao status almejado. “Por isso investiram no que se tornaria o grande espetáculo: escolas de samba, instituições culturais saindo do gueto”, esclarece o escritor.

No entanto, o que levou a essa movimentação de militares para a contravenção foi o desmonte do aparelho repressivo. “Com a abertura gradual público-política feita pelo presidente Geisel, os torturadores se sentiram abandonados e procuraram outro poder”. Eles ajudaram a reorganizar administrativamente o jogo do bicho. “Foi implantada tortura, caça e corrupção”, acrescenta o autor.

As descobertas sobre essa migração foram publicadas em quatro reportagens no jornal “O Globo” em 2013, com a primeira matéria de três páginas publicadas no domingo. A princípio, Aloy se recusou a escrever um livro sobre as denúncias, mas foi convencido de que haveria mais o que apurar e contar. “Não que existissem falhas na série de reportagens, mas percebi que havia espaço para o crescimento da investigação”, explica.

Assim, a apuração continuou e deu origem ao livro “Porões da Contravenção”, que focou em três personagens: Castor de Andrade, Anísio Abraão David ou Anísio, como ficou conhecido na Escola de Samba da Beija-Flor, e Capitão Guimarães. O livro trata de como os contraventores dominaram dinheiro, relações institucionais e ganharam exposição social. Um trabalho jornalístico que deu frutos aos seus autores, elucidou a história por trás do carnaval carioca e, além disso, contribui para a formação de jornalistas.

Como acredita Gabriel Lopes, estudante de Jornalismo de 25 anos. A partir da apuração feita por Aloy Jupiara e Chico Otavio, o jovem compreendeu o que é ideal para a área investigativa. “Pude perceber que para fazer esse tipo de reportagem é preciso tempo e ir a fundo nos materiais disponíveis, não apenas confiando na internet, como pode acontecer nos dias de hoje”.

Jefferson Alves — 7° Período

Jornalista Cultural

Originally published at http://agenciauva.net on June 23, 2018.

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